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O primeiro interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato, com a substituta do juiz Sérgio Moro, a juíza federal Gabriela Hardt, foi marcado por um clima de tensão. Na audiência, que durou ontem quase três horas, a magistrada chegou a advertir o petista logo no início do depoimento. Foi a primeira vez que o ex-presidente deixou a Superintendência da Polícia Federal desde que foi preso, em 7 de abril, após ser condenado em segunda instância no processo que envolve o triplex do Guarujá.
Nesta ação, o ex-presidente -
que disse ontem que não sabia do que era acusado e alegou ser vítima de uma
"farsa" - é réu no caso do sítio de Atibaia por corrupção passiva e
lavagem de dinheiro. Segundo a acusação, o petista recebeu propina das
empreiteiras OAS e Odebrecht por meio de reformas no sítio, que está em nome do
empresário Fernando Bittar, também réu na ação - ao todo são 13 acusados. As
obras teriam custado cerca de R$ 1 milhão.
"O senhor sabe do que
está sendo acusado?", questionou a juíza, seguindo o rito dos
interrogatórios a que são submetidos todos os réus. "Não", respondeu
o petista, para, em seguida, dizer que estava disposto a responder a toda e
qualquer pergunta. "Eu sou dono do sítio ou não?", questionou.
"Isso é o senhor que tem
que responder e não eu", rebateu Gabriela. "E eu não estou sendo
interrogada nesse momento." Após ser interrompida por Lula, que insistia
em fazer perguntas, a juíza afirmou: "Senhor ex-presidente, se começar
nesse tom comigo, a gente vai ter problema."
Tanto os delatores da
Odebrecht como o ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro,
afirmaram em juízo que executaram serviços em benefício do petista. Pinheiro
chegou a dizer que o sítio era de Lula, o que ex-presidente nega.
Na segunda-feira passada,
Bittar havia dito a Gabriela que a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em
fevereiro de 2017, "ia tocar a obra" no sítio e o pecuarista José
Carlos Bumlai, amigo de Lula, faria a reforma. Segundo Bittar, Marisa "tinha
autonomia" para coordenar as obras.
As reformas do sítio teriam
sido feitas em três etapas. A primeira, sob comando de Bumlai no valor de R$
150 mil, a segunda da Odebrecht, de R$ 700 mil - ambas em 2010 - e uma terceira
obra na cozinha, pela OAS, de R$ 170 mil - em 2014 -, em um total de R$ 1,02
milhão.
"Agora ficou fácil citar
o nome da dona Marisa, porque ela morreu", afirmou Lula. "Tenho muita
dúvida se dona Marisa pediu para fazer a reforma. Tenho muita dúvida. Como ela
não está aqui para se explicar, eu fico com a minha dúvida."
Lula disse ainda que "tem
a tranquilidade de dizer que não sabe quanto custou a reforma". Segundo
ele, só "quem pode dizer isso é quem é o dono do sítio."
O petista também se exaltou
quando foi questionado sobre propinas pagas no âmbito de contratos da Petrobrás
e a criação de um suposto caixa do PT, que teria sido administrado pelo
ex-tesoureiro da sigla João Vaccari.
"O senhor não acredita,
mas foi lhe dito nos outros depoimentos sobre quantidades de valores devolvidos
por diretores e gerentes da Petrobrás relativos a propinas e os valores em
contas bloqueadas de políticos no exterior", afirmou Gabriela. Lula
respondeu: "Aí é caixa deles, na verdade eles ganhavam um prêmio. Nunca
foi tão fácil ser ladrão nesse País. Você rouba, aí depois faz a delação e fica
com um terço do roubo ou dois terços do roubo".
A juíza reagiu quando Lula
sugeriu amizade entre Sérgio Moro e o doleiro Alberto Youssef, delator das
Operações Lava Jato e Banestado. "Ele não vai fazer acusações a meu colega
aqui", disse.
Acusações rebatidas
Em nota divulgada ontem, o
advogado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cristiano Zanin Martins,
disse que durante seu depoimento o petista "demonstrou perplexidade"
e reforçou "indignação por estar preso sem ter cometido crime".
"Lula apresentou em seu
depoimento a perplexidade de estar sendo acusado pelo recebimento de reformas
em um sítio situado em Atibaia que, em verdade, não têm qualquer vínculo com a
Petrobrás e que pertence de fato e de direito à família Bittar, conforme farta
documentação constante no processo", escreveu o advogado.
Na sequência, o advogado
afirma que Lula - "preso sem ter cometido qualquer crime" - estaria
"sofrendo uma perseguição judicial por motivação política materializada em
diversas acusações ofensivas e despropositadas para alguém que governou
atendendo exclusivamente aos interesses do País". As informações são do
jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Diário de PE