O vice-governador de Minas
Gerais, Antonio Andrade (MDB), o empresário Joesley Batista, dono da JBS, e
mais 14 foram presos nesta sexta-feira (9) em uma operação que investiga
suposto esquema de corrupção no Ministério da Agricultura durante o governo da
presidente Dilma Rousseff (PT).
Ao todo, são 19 mandados de
prisão temporária (válida por 5 dias), um deles contra o ex-presidente da
Câmara Eduardo Cunha (MDB), que está preso no Paraná.
VEJA OS NOMES DOS PRESOS JÁ DIVULGADOS
Antonio Andrade,
vice-governador de Minas e ministro da Agricultura de março de 2013 a março de
2014
Joesley Batista, sócio da
J&F, dona da JBS
Ricardo Saud, ex-executivo da
J&F
Demilton de Castro,
ex-executivo da J&F
João Magalhães, deputado
estadual pelo MDB de MG
Neri Geller, deputado federal
eleito pelo PP de MT e ministro da Agricultura de março de 2014 a dezembro de
2015
Rodrigo Figueiredo,
ex-secretário de Defesa Agropecuária
Mateus de Moura Lima Gomes,
advogado
Mauro Luiz de Moura Araújo,
advogado
Ildeu da Cunha Pereira,
advogado
Marcelo Pires Pinheiro
Fernando Manoel Pires Pinheiro
Walter Santana Arantes
Claudio Soares Donato
José Francisco Franco da Silva
Oliveira
VEJA A LISTA DOS MANDADOS NÃO CUMPRIDOS
Waldir Rocha Pena, sócio do
supermercado BH, que estaria no Uruguai
Florisvaldo Caetano de
Oliveira, funcionário da JBS
Odo Adão filho, advogado
A PF cumpriu ainda, segundo os
delegados Rodrigo Morais e Mário Velloso, 63 mandados de busca e apreensão no
Distrito Federal e em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba e Mato
Grosso.
Um dos mandados foi cumprido
na casa do vice-prefeito de João Pessoa, Manoel Júnior (MDB), que doi relator
de uma medida provisória em 2014 que teria beneficiado a JBS. A casa do
prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), ex-ministro de Dilma, também foi
alvo da Operação Capitu
VEJA A LISTA DOS
MANDADOS NÃO CUMPRIDOS
Waldir Rocha Pena, sócio do supermercado BH, que estaria
no Uruguai
Florisvaldo Caetano de Oliveira, funcionário da JBS
Odo Adão filho, advogado
Num primeiro momento, Saud não havia sido localizado, e a
PF chegou a dizer que ele estava no exterior. Mais tarde, entretanto, foi
confirmada a prisão do executivo.
A PF fez buscas no gabinete do vice-governador de MG. Ele
foi preso em uma fazenda em Vazante, no Noroeste de Minas Gerais. Os mandados
foram expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
O delegado da PF Mário Velloso, responsável pelas
investigações, disse que as prisões foram decretadas pois os investigados
estavam atrapalhando as investigações.
"Para que a gente pudesse coletar todas as provas
sem interferência da organização criminosa, e eles vinham obstruindo a Justiça.
A gente tem elementos fortes de que os integrantes da organização criminosa
estavam atrapalhando a coleta de provas pela Polícia Federal, por isso foram
decretadas as 19 prisões."
— Mário Velloso, delegado
O esquema
Batizada de Capitu, a operação é um desdobramento da Lava
Jato e feita em conjunto com a Receita Federal. A operação é baseada na delação
do doleiro Lúcio Funaro, apontado como operador do MDB. Em sua delação, Funaro
disse que a JBS dos irmãos Joesley e Wesley Batista deu dinheiro para o MDB -
R$ 15 milhões para o nacional e mais R$ 15 milhões para o mineiro.
Na delação, ele disse ainda que Antônio Andrade foi
indicado ao Ministério da Agricultura pelo grupo do deputado cassado Eduardo
Cunha. Em troca, ajudava no esquema que beneficiou a JBS.
Duas grandes redes varejistas de Minas Gerais – BH e EPA
– atuavam no esquema, por meio de seus controladores e diretores. As redes
varejistas se aproveitavam do grande fluxo de caixa para lavar o dinheiro que
era doado a partidos e políticos. O esquema operou entre agosto de 2014 e
fevereiro de 2015.
Quando era ministro, o vice-governador Antonio Andrade
teria beneficiado a JBS ao determinar a regulamentação da exportação de
despojos (parte do boi que não é consumível), a proibição do uso da ivermectina
de longa duração – um antiparasita – e a federalização das inspeções de
frigoríficos, segundo as investigações.
Em troca, o grupo empresarial Grupo JBS teria pago R$ 2
milhões pela regulamentação da exportação de despojos e R$ 5 milhões na
proibição da ivermectina de longa duração.
Os valores foram depositados em contas bancárias de seis
escritórios de advocacia, que depois repassavam os valores lavados aos
beneficiários finais.
Se indiciados, os envolvidos vão responder pelos crimes
de constituição, participação em organização criminosa, obstrução de Justiça,
corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
O que dizem os
citados
A J&F Investimentos, holding que controla a JBS,
informou por meio do advogado de Joesley Batista, André Callegari, que causa
estranheza a decretação de prisão temporária. "Joesley Batista é
colaborador da Justiça e tem cumprido à risca essa função. Portanto, causa
estranheza o pedido de sua prisão no bojo de um inquérito em que ele já prestou
mais de um depoimento na qualidade de colaborador e entregou inúmeros
documentos de corroboração. A prisão é temporária e ele vai prestar todos os
esclarecimentos necessários".
Os advogados do deputado federal Neri Geller esclareceram
que tão logo conheçam os motivos da prisão e o inteiro teor do processo irão se
manifestar.
A rede de Supermercados BH disse que não se manifestaria.
O EPA Supermercados informou, por meio de nota, que
"nunca participou de ações políticas, nem nunca fez qualquer doaçao
ilegal, principalmente que envolvesse qualquer troca de interesses
políticos". Além disso, a empresa afirma que o nome do EPA não faz parte
das delações e nem dos autos de busca da Operação "Capitu".
A reportagem não conseguiu contato com a assessoria do
vice-governador. O Governo de Minas Gerais ainda não se posicionou sobre a
prisão de Andrade.
O advogado de Ricardo Saud não atendeu às ligações.
O advogado Bruno Espiñeira disse que Lucio Funaro segue
colaborando com a Justiça, no que for necessário.
A reportagem ligou para o gabinete de João Magalhães
(MDB), na ALMG, e as ligações não foram atendidas.
O G1 também procurou a assessoria da ex-presidente da
República, Dilma Roussef, que não vai se posicionar sobre a operação.
O Ministério da Agricultura não vai se pronunciar.
O advogado Rafael Guedes de Castro, que representa
Eduardo Cunha disse que o mandado de prisão ainda não chegou ao presídio.
"A defesa ainda não teve acesso ao conteúdo do decreto de prisão. Com
certeza irá se manifestar após o conhecimento".
O advogado de Rodrigo Figueiredo afirmou que vai se
pronunciar ainda nesta tarde.
Antonio Andrade
Antônio Andrade nasceu em 1953 em Patos de Minas, mas foi
criado em Vazante, no Noroeste mineiro, onde iniciou-se na política. Filiou-se
ao PMDB em 1987 e, no ano seguinte, foi eleito prefeito de Vazante.
Em 1994 conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa,
onde permaneceu por 12 anos. Em 2001 e 2002 foi líder do governo Itamar Franco
na Assembleia.
Em 2006, foi eleito deputado federal, sendo reeleito em
2010. Em 2009 assumiu a presidência da Executiva Estadual do PMDB.
Representou Minas na equipe da presidente Dilma Rousseff
(PT), tendo sido escolhido em 2013 para dirigir o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, cargo que ocupou até março de 2014.
É engenheiro civil, graduado pela Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) e pecuarista.
Joesley Batista
O nome de Joesley começou a aparecer com mais força no
noticiário da Lava Jato em maio de 2017, quando chegou ao conhecimento do
público uma conversa que ele gravou com o presidente Michel Temer no Palácio do
Jaburu.
Joesley visitou Temer na residência oficial em março
daquele ano e gravou o presidente em segredo. No áudio, o empresário sugere que
tem feito pagamentos para comprar o silêncio do deputado cassado e preso,
Eduardo Cunha. Nesse momento, Temer respondeu: “Tem que manter isso aí, viu...”
O caso deflagrou a maior crise política do governo Temer
e gerou duas denúncias contra o presidente, apresentadas pela
Procuradoria-Geral da República. Ambas foram barradas na Câmara.
Joesley, seu irmão Wesley Batista, e o executivo Ricardo
Saud fecharam acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, no
qual se comprometiam a prestar
Informações sobre irregularidades das quais participaram em
troca do abrandamento de possíveis penas.
No entanto, em setembro de 2017, o então procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, anunciou a rescisão do acordo de Joesley e Saud.
De acordo com Janot, os dois executivos se recusaram a prestar informações,
além de terem, após a assinatura do acordo, sonegado, adulterado, destruído ou
suprimido provas.
Joesley e Saud foram presos dias depois.
Os acordos de delação dos irmãos Batista estão suspensos,
por determinação da Procuradoria Geral da República (PGR). A rescisão, contudo,
ainda depende de decisão do ministro Edson Fachin, relator do caso no Supremo
Tribunal Federal
Fonte: G1