![]() |
Foto: Reprodução/TV Gazeta |
Segundo os dados de 2016 do Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento (SNIS), apenas 51,9% dos brasileiros têm acesso à
coleta de esgoto, o que significa que mais de 100 milhões de pessoas utilizam
medidas alternativas para lidar com os dejetos – seja através de uma fossa,
seja jogando o esgoto diretamente em rios. Quanto ao acesso a água, 35 milhões
de brasileiros seguem sem conexão com o sistema.
Segundo o estudo, caso o saneamento fosse universalizado
hoje, os custos de infraestrutura chegariam a R$ 241,3 bilhões. Considerando o
aumento de despesas nas contas das famílias com os novos serviços de água e
esgoto, o custo total chegaria a R$ 395,6 bilhões em 20 anos.
Com a universalização do saneamento, porém, o país teria
uma série de benefícios nesses próximos anos que tornariam as contas positivas.
Eles vão desde a redução dos custos com a saúde até a renda gerada pelo aumento
de operação da cadeia produtiva do setor. Essa renda chegaria a R$ 1,5 trilhão.
No final, o balanço positivo é de mais de R$ 1,1 trilhão para o país, aponta o
estudo.
Investimento
transversal
Segundo Édison Carlos, presidente executivo do Instituto
Trata Brasil, os ganhos da universalização do saneamento são amplos por se
tratar de um investimento transversal – ou seja, que envolve diversas áreas da
sociedade.
Os maiores retornos viriam das próprias cadeias
produtivas do saneamento: a renda gerada pelo investimento direto no setor
(ampliando redes, construindo estações de tratamento, etc.) seria de R$ 301,9
bilhões, e a renda gerada pelo aumento de operação das empresas responsáveis
pelo saneamento (contratando mais empregados, aumentando a compra de produtos
químicos, etc.) chegaria a R$ 489,9 bilhões.
Saúde e
produtividade
Existem, ainda, os efeitos indiretos do saneamento. Por
exemplo, com a universalização, R$ 5,9 bilhões devem ser economizados em 20
anos com a melhora das condições de saúde dos brasileiros que hoje sofrem com
doenças decorrentes da falta de saneamento. Esse valor considera principalmente
despesas de internações no SUS.
De acordo com o estudo, em 2013, considerando apenas as
internações por conta de doenças gastrointestinais infecciosas, foram 391 mil
hospitalizações. Somente o SUS pagou R$125,5 milhões por estes serviços.
Além disso, o estudo aponta que, em média, as pessoas
ficam longe do trabalho 3,3 dias por afastamento. Consequentemente, a
universalização também traz ganhos de produtividade dos trabalhadores, pois as
faltas diminuem.
Édison Carlos também faz um paralelo entre produtividade
e educação, já que crianças que moram em casas sem acesso aos serviços básicos
têm níveis de escolaridade piores que aquelas com acesso a saneamento. Um
estudo do Trata Brasil publicado em outubro deste ano apontou que meninas sem
acesso a banheiro apresentam 46 pontos a menos em média no Enem quando
comparadas à média dos estudantes brasileiros.
De acordo com o atual estudo, como a escolaridade afeta
positivamente a produtividade e a renda dos trabalhadores, uma escolaridade
menor significa uma perda de produtividade e de remuneração do trabalho. Por
isso, se for dado acesso aos serviços de coleta de esgoto e de água tratada a
um estudante que hoje não tem esses serviços, espera-se uma redução de 3,6% em
seu atraso escolar. Isso eleva a produtividade do trabalho das gerações
futuras, com efeito sobre sua remuneração.
Valorização
imobiliária e turística
Édison Carlos também destaca que os problemas decorrentes
da falta de saneamento vão muito além de saúde e suas implicações nos níveis de
educação e de produtividade. Um dos setores mais beneficiados com a
universalização, por exemplo, seria o imobiliário. O ganho para os donos de
imóveis que alugam ou que vivem em moradia própria poderia alcançar R$ 22,3
bilhões por ano. Isso porque a ligação de uma moradia às redes de distribuição
de água e de coleta de esgoto permite elevar o valor do imóvel em quase 33%,
aponta o estudo.
"Condomínios e bairros que têm proximidade com
córregos são mais afetados. Com a universalização dos serviços, bem como com a
despoluição do rio, você dá um salto muito alto no valor dos imóveis",
afirma Carlos.
Essa valorização também afeta o setor de turismo, que
fica em alta com as condições ambientais favoráveis. De acordo com o estudo, os
ganhos podem chegar a R$ 42,8 bilhões em 20 anos, resultando em renda maior
para os trabalhadores do setor, maiores lucros para as empresas e mais impostos
para os governos, principalmente de cidades que recebem tributos sobre os serviços
e as atividades de turismo.
"O meio ambiente [mais cuidado] dá uma condição de
vida melhor para as pessoas e também torna aquele bairro mais atrativo não só
para quem quer comprar uma casa, mas também para um turista. Não há turismo em
condição ambiental degradada", diz Carlos.
Investimento lento
Mesmo com os diversos benefícios, o investimento no setor
segue lento. De acordo com o estudo, considerando a inflação, serão necessários
R$ 443,5 bilhões em 20 anos para que toda a população tenha acesso aos serviços
de água e esgoto. Ou seja, o país precisaria de um investimento anual mínimo de
R$ 22,2 bilhões. Em 2016, porém, foram investidos R$ 11,5 bilhões.
Carlos destaca o atual período político do país, com o
novo governo de Jair Bolsonaro (PSL) tomando posse em janeiro de 2019. Além
disso, o Congresso está discutindo uma medida provisória que muda o marco legal
do saneamento básico.
"Estamos falando muito da nossa preocupação sobre o
aumento do investimento. Nem o setor privado nem o público [de cidades e
estados] estão conseguindo dar conta, então o governo federal tem um papel
importante. O novo governo vai ser fundamental", afirma Carlos.
Fonte: G1